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Cemitério Maldito (2019) | Quando o homem gosta de errar

Cemitério Maldito, segundo filme baseado no livro de Stephen King, conta a história de Louis Creed, que se muda de Boston para o Maine com a sua esposa, seus dois filhos, interpretados brilhantemente por Jeté Laurence Hugo Lavoie, e o gato Church. O intuito: construir uma vida mais tranquila para todos eles. Diferente da versão de 1989 dirigida por Mary Lambert, o novo longa tem um tom mais sombrio e menos sanguinolento, apesar do humor sádico que se encontra no meio do caminho.

No entanto, a tranquilidade desejada desmorona após o gato ser atropelado por um caminhão, o que faz com que Louis aceite a sugestão do vizinho, um senhor chamado Jud Crandall, de enterrar o gato em um lugar isolado na floresta, depois de uma barreira, atrás do cemitério de animais que fica em sua propriedade. Após tomar tal decisão, a vida da família se transforma numa sequência de eventos bizarros que culminarão em consequências ainda mais sinistras.

O filme, logo de cara, brinca com os perigos e possibilidades de gerar a vida após a morte, algo que Mary Shelley já tinha escrito sabiamente há 100 anos em Frankenstein. Com influências claras, King escreveu o livro para divagar sobre a morte e barreiras que não deveriam ser ultrapassadas. Apesar disso, o filme não se torna pedante. Ele é esperto o suficiente para criar horror e só depois discutir os erros do egoísmo do homem perante a ordem natural das coisas.

No intuito de homenagear as obras de horror dos anos 1980, Cemitério Maldito ainda consegue manter uma energia nostálgica, visto que a floresta do cemitério, por exemplo, tem fumaça, som de animais e um design assustador em suas árvores, quase como se fosse a mesma ambientação do Evil Dead original. Dirigido por Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, a obra também desenvolve a importância de superar traumas do passado, sendo ainda atual sobre questões de estresse pós-traumático e opressão no casamento, algo que pode servir de discurso e válvula de escape contra as decisões arrogantes dos homens no matrimônio.

E as principais vítimas, obviamente, são as mulheres do filme. Laurence, que interpreta Ellie Creed, nesse caso, surge com uma interpretação destruidora e que funciona tão bem que assusta até mesmo em cenas consideravelmente bobas, como aquela em que ela dança balé no meio da sala. Já Amy Seimetz como Rachel, a mãe da família, se mostra como a parceira que o homem não escuta os conselhos. Ela é recusada constantemente, o que, apenas no seu olhar diante das decisões do marido, consegue gerar pena.

Se mostrando eficaz em sua mixagem de som, que assusta com barulho de raios e dos animais, e com uma fotografia escura, que simula frio constantemente, Cemitério Maldito ainda consegue fazer aquilo que é regra nos filmes de terror: assustar. A última cena, por exemplo, tem o corte perfeito para os créditos finais. E a imaginação complementa o que normalmente seria mostrado. Um trabalho eficaz e surpreendentemente imprevisível paro gênero neste momento. 

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