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X-Men: Fênix Negra: Neymar e o gênero de super-herói

Fênix Negra é um filme de 2019. Com um protagonismo feminino extremamente patente, graças ao trio Jennifer Lawrence, Sophie Turner e Jessica Chastain, o discurso de descontrução do gênero retorna no último longa da franquia, iniciada há 19 anos. X-Men sempre foi o melhor veículo para discutir alegorias sociais, como os direitos civis nos anos 1960, a perseguição aos gays, o racismo constante e as desilusões dos adolescentes no fim dos anos 1980. Infelizmente, o diretor Simon Kinberg, com um pepino em mãos, se despede da franquia de modo superficial, ainda que dedicado em criar um subtexto feminista sempre que pode.

X-Men: Fênix Negra: Neymar, machismo e o gênero de super-herói

  CRÍTICA 

Apesar da trama toscamente previsível e cheia de inconsistências, como as viradas de lado, Fênix Negra é esperto em enfatizar os problemas de um gênero dominado por homens. Praticamente ele diz: todos os homens são estúpidos. Todos! Hank/Fera, com o ego ferido, se entrega a bebida, Erik/Magneto, com uma sede involuntária de vingança, ataca a personagem de Chastain com dezenas de metralhadoras, impulso de preservação da ordem masculina do mundo, enquanto que Scott/Ciclope, que sempre foi o maior gado do gênero, joga na cara algumas promessas que a sua ex-namorada fez. “Você jurou que voltaria para mim”. Sério, Scott?.

E por último temos Charles, personagem central da família X-Men. Ao contrário de uma homenagem ao herói, Kimberg o problematiza, tornando-o em um homem que enche o peito e grita para todos que tem um senso de merecimento maior que os demais. Seu ego em cenas pontuais acaba incomodando, uma vez que nos filmes anteriores ele tinha uma consistência pré-estabelecida para, de repente, se tornar a figura patriarca e centralizadora da paz mundial. É uma virada de personagem arriscada, ainda que interessante pelo ponto de vista narrativo, que faz total sentido.


Felizmente, os conceitos aplicados funcionam. Existe um machismo presente que, em tempos de acusações contra o Neymar (figura que serve de herói para milhares de crianças), torna Fênix Negra ainda mais relevante e necessário, dado que está pronto para discutir pautas esquecidas no gênero. X-Men, nesse sentido, entra para desbancar toda estética masculina tão presente nos filmes anteriores.

Uma pena, no entanto, que todo resto seja apressado. As cenas de ação são absurdamente curtas, a música de Hans Zimmer é esquecível e a fotografia/3D escura. Mas blá blá blá. O que importa é o contexto social que, sim, é muito maior que o filme. E esse é o mérito dele, independente de qualidades e defeitos.

E o longa não está errado: todos os homens são estúpidos, sim. Nossa mutação é essa.

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