Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2017

Os Pobres Diabos (2017) | A Esperança Teatral

A início, e posteriormente se confirma, o retorno de  Rosemberg Cariry após mais de 20 anos desde seu último sucesso, apresenta-se como uma história de observação. Não com o requinte ousado que Gabriel Mascaro encontra em ‘Boi Neon’ , principalmente porque a visão geral deste sobre o artista circense na peleja da sobrevivência não é das mais novas. Mas diante alguns exageros dessa imersão, seus personagens conferem criatividade a essa ingênua metáfora sobre as pendências que sofre a arte em sua raiz. Não demora muito para que Rosemberg aponte diretamente a origem de sua história; baseado no texto do piauiense Gomes Campos, que originou a peça “O Auto do Lampião do Além”, a abordagem precisa ser sempre aumentada por um realismo teatral. Não que isso venha diretamente da obra original, mas as constantes falas posadas e até mesmo os cenários modulares refletem a um filme-teatro. Mas diferente do que fez Denzel Washington com sua peça deselegante, aqui a movimentação é de um o

Meu Malvado Favorito 3 (2017) | Quando o vilão diverte mais

Despicable Me 3 (EUA) Para quem costuma acompanhar estúdios hollywoodianos  de animação, não é nenhum segredo de que "Meu Malvado Favorito" (2010) é a "galinha dos ovos de ouro" da Illumination Entertainment, estúdio que é um dos braços da gigantesca Universal Pictures. Responsável por apresentar ao mundo os já supersaturados Minions — criaturas amarelas que ganharam um filme spin-off  com seu nome em 2015 — o longa-metragem original, devido ao seu gigantesco sucesso, já virou até atração de parque temático. Após uma sequência morna em 2013, este terceiro episódio da franquia, a cargo novamente dos diretores Pierre Coffin e Kyle Balda , busca atrair outra vez o público pagante, apresentando algumas propostas que devem ser exploradas em breve pelo próprio estúdio de forma comercial.  Desta vez, o protagonista Gru ( Steve Carrell / Leandro Hassum ), aqui inicialmente um "mocinho" à caça de vilões com sua esposa Lucy ( Kristen Wiig / Maria Clara

Na Vertical (2017) | Liturgia de desejos

Rester Vertical (França) O cinema de Alain Guiraudie é sempre uma experiência desconcertante. Nada é óbvio, nem os rótulos que empregamos aos personagens e sequer os desvios e caminhos que seguem suas histórias. Não a toa, 'Na Vertical' se parece muito com a improbabilidade narrativa de 'Um Estranho no Lago' . É desafiador que Alain esteja interessado em criar suspenses íntimos com histórias tão sinceras quanto estranhas. Estranho porque adiciona valor exclusivo aos impactos sexuais sem parecer fetichista, e os filmes se reforçam como mediador desses desejos. Aqui não é diferente. Não é mais surpresa que Alain precise de algo além de seus personagens para a verossimilhança de seu tom exaustivamente ameaçador. Para além das constantes incitações dos possíveis conflitos (e parece que a ideia é jamais acertar), o filme precisa ser uma pintura de textura única. E quanto a essa textura, ainda não cheguei à conclusão do que é mais sufocante: o silencio ou a escur

Um Perfil para Dois (2017) | Humor, problema e solução

Un Profil Pour Deux (França/Alemanha/Bélgica) Enquanto gênero de massa, a comédia costuma se jogar em abismos tão corriqueiros que a graça é sabotada por um oportunismo de reciclagem. O ineditismo temático e estrutural não é um requisito financeiramente importante para que esses filmes, de um modo geral, existam. Essa definição, por exemplo, se aplica na maior parte do que é produzido pelos EUA e até mesmo pelo Brasil. Assistido no Festival Varilux de Cinema Francês, é curioso perceber que 'Um Perfil para Dois' encontra desvios diante a quantidade de comédias presentes no evento, e repensar o emprego estereotipado do humor diante isso é uma discussão a ser levada adiante. O destaque de sua história é a abordagem que não precisa nascer engraçada; e mesmo que a montagem incite logo no início uma ambientação muito apressada, seu sentimento geral deixa evidente as medições com a realidade. Não é como roteiros espalhafatosos que se orgulham de ser sempre inconsequentes,

Coração e Alma (2015) | A morte e a vida bem trabalhadas

Répare les Vivants (Francça) Ah, o cinema francês... Sendo um referencial da chamada cultura erudita, esta indústria cinematográfica possui diversas características marcantes, como suas alusões ao clássico e o seu ritmo um pouco mais lento — que dispensa o chamado clímax — em comparação a outras produções, principalmente as blockbusters . No filme "Coração e Alma" (2015), pelo qual, em tradução livre, possui o título original "Reparar os Vivos" , o universo francês não poderia divergir tanto de sua essência principal, mesmo que adaptando-o para a demanda atual de assuntos modernos. Explorando o contemporâneo e mesclado-o com elementos clássicos, o trabalho da diretora Katell Quillévéré emociona constantemente, mesmo nas cenas mais monótonas, e consegue arrancar lágrimas dos despreparados nas horas certas, sabendo exatamente em qual momento tocar nas feridas e nos tabus que o ser humano carrega por natureza. Entre eles, seu principal, aquele que não deve ser

Animal Político (2017) | Verdade superficial

Animal Político (Brasil) O espaço mundial para o cinema experimental/contemplativo foi bastante reduzido por diretrizes óbvias de mercado. Mas a coerção da lógica narrativa exata não o tangeu por completo, deixando seu espaço reservado em festivais de cinema. 'Brasil S/A' de Marcelo Pedroso e até mesmo o cearense 'O Último Trago' do coletivo Alumbramento, vêm atraindo foco em suas carreiras. 'Animal Político' , filme do pernambucano Tião entra nesse grupo. E, como é comum nessa parcela do cinema, ‘Animal’ é um filme de distinção imensa a qualquer outro experimento narrativo. Tendo como protagonista uma vaca que busca o sentido da vida, Tião faz questão de compreender a improbabilidade do filme e justificar isso com uma genial necessidade de distanciamento.  O filósofo se incomoda com o espaço que ocupa e isso é o ponto de partida para questionar as normalidades. Colocando em risco a "superioridade" do humano, Tião se pergunta por quê nós

Rock’n Roll - Por Trás da Fama (2017) | Forever Young

Rock'n Roll (França) A todo instante dos 123 minutos de ‘Rock’n Roll’ atentei-me ao fato de que se seu protagonismo fosse ocupado por uma mulher que, em mesmos parâmetros, passa por uma crise profissional por conta da idade, este jamais seria um filme de comédia. Isso porquê o principal drama do personagem Guillaume (homônimo de seu autor/ator) não se volta ao fato de ter sua carreira inviabilizada devido seus 40 e poucos anos. O que o incomoda são os tipos de papeis que enfrentará daí para frente, percebendo que a indústria quer tanto lhe reclassificar. É por isso que o filme “autobiográfico” do astro Guillaume Canet é uma comédia; no fim das contas, é uma história que fala sobre ego e a percepção da própria imagem de acordo com as insistências do tempo. A mulher nessa indústria, porém, perde papéis, tem a carreira ameaçada. Esse ano, por exemplo, o fato da atriz Nicole Kidman apresentar quatro filmes no Festival de Cannes foi retratado em diversas matérias sensaci

Uma Agente Muito Louca (2017) | A heroína “café com leite”

RAID Dingue (França / Bélgica) Chega a ser engraçado, e não por ser uma comédia, que ‘Uma Agente Muito Louca’ tente tangenciar alguma discussão feminista. Sua protagonista é mais forte que o marido, evidentemente mais determinada e também desencaixada de “padrões femininos”. No entanto, Johanna ( Alice Pol ) é o completo inverso da proposta e tudo aquilo do que lhe acusam os homens em cena. Sobrando somente vontade, a mulher que sonha em ser uma agente federal é na realidade incompetente, inconsequente e perigosa (por estar onde está). Mas é claro que essas questões são invalidadas por uma comédia que não serve a nenhum aspecto de realidade. Todos os atropelos ilógicos da história são defendidos pela tese de um humor no sentido mais burlesco, utilizando-se da maioria dos clichês oferecidos. A começar pela estrutura que precisa de um personagem postiço que está lá para fortificar a mudança que obviamente vai acontecer. Assim como o namorado ignorável de Mia em ‘La La Land’

Dia dos Namorados | 10 diferentes tipos de amor na Literatura vl. 2

Quando pensamos em amor, não podemos deixar de lado algumas obras, como a tradicional obra de William Shakespeare, "Romeu & Julieta". Mas claro, o amor não é único, muito menos um só. Desde o "amor que rompe gerações" até a famigerada paixão platônica, não há nada mais completo que a literatura para encontrar os diferentes tipos de romances. Pensando nisso - e tendo como base uma matéria de dois anos atrás -, o Quarto Ato separou mais 10 tipos de amor a fim de ilustrar o mês dos apaixonados... Então compre os chocolates, coloque a playlist para tocar e confira os romances: + Dia dos Namorados | 10 diferentes tipos de amor na Literatura 1. " O Fim da Eternidade", de Isaac Asimov - O amor além do eterno Em uma era pela qual é possível controlar o tempo, Andrew Harlan é um Eterno que nunca falhou em seus deveres na Mudança da Realidade, trabalho capaz de influenciar bilhões de pessoas e de até mudar o rumo de toda a história. O técni

10 filmes com casais que deixaram lições de amor, mesmo sem um final feliz

O dia dos namorados chegou e essa é uma das datas mais importantes para algumas pessoas, principalmente as que estão apaixonadas e vivem um relacionamento com quem realmente ama. Em virtude dessa data, selecionamos os 10 filmes que nos ensinaram grandes lições de amor, mas que infelizmente não tiveram um final feliz. Uma lista sobre quando o amor supera os contos de fadas. 1. Um Dia One Day (no Brasil: Um Dia) é um filme lançado em 2011, dirigido por Loone Scherfig , com roteiro baseado no romance homônimo do próprio roteirista David Nicholls , estrelando Anne Hathaway e Jim Sturgess . Um Dia conta a história de Emma e Dexter que se conheceram na faculdade, em 15 de julho. Esta data serve de base para acompanhar a vida deles ao longo de 20 anos. Neste período Emma enfrenta dificuldades para ser bem sucedida na carreira, enquanto Dexter consegue sucesso fácil, tanto no trabalho quanto com as mulheres. A vida de ambos passa por várias outras pessoas, mas sempre está, de a

A Múmia (2017) | O mal começo do "Universo Sombrio"

The Mummy (EUA) O universo egípcio está longe de ser saturado. Seus deuses, sua localização exótica e sua influência na história antiga são fatores que fazem desse contexto um dos mais ricos a serem trabalhados. Por ser um sistema completo, foi uma escolha arriscada — apesar de interessante — que o primeiro filme que dê início a tão aguardada saga do Dark Universe contemple um dos monstros ma is   isolados do terror. Por ser pioneiro e a peça fundamental para o começo de um novo universo, seguindo o já conhecido sistema de diversos filmes interligados por personagens e enredos, era de se esperar que "A Múmia"  (2017) fosse a entrada triunfal da Universal na nova tendência de Hollywood, já explorada por seus companheiros (e não necessariamente concorrentes) Marvel e DC Comics.   A audácia da Universal Studios e do diretor Alex Kurtzman , conhecido principalmente por seu trabalho como roteirista do novo "Star Trek"  (2016) e de "O Espetacular Ho

Z - A Cidade Perdida (2017) | O Calcanhar de Aquiles encontrado na família

The Lost City of Z (EUA) A sétima arte, ainda como um modo de expressar sentimentos, angústias e felicitações, tem a rotineira forma cíclica de identificar e desenvolver dores do mundo real. Dito isto, não há nenhum filme de  James Gray  que não flerte com o descaso e dor, uma vez que  Amantes  fale de amor na contemporaneidade e  Era uma vez em Nova York  trate da fantasia do sonho americano durante o século XX. Com  Z: A Cidade Perdida , Gray emula a aventura ao desconhecido, como outrora foi muito comum em Hollywood.  + Amantes (2008) | Melodrama de James Gray é um dos melhores do gênero O material base para o diretor foi o livro de  David Grann  sobre o militar  Percy Fawcett , que foi cartografar os limites inexplorados da Amazônia entre a Bolívia e o Brasil, e que ficou obcecado com uma possível descoberta que, para a sua vitória, mudaria o mundo. A sua cidade fantasma, batizada de Zed, possuía uma civilização mítica no centro da floresta desconhecida, logo quando